sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Chovia muito. Meus pés estavam encharcados, e eu não conseguia sair da chuva. Obeservava.
O som dos pingos d’água no guarda-chuva parecia diminuir a confusão que se passava em sua mente. Ela andava sem rumo, sem olhar pro lado, sem encarar ninguém. Caminhava apenas. Atônica. Ora chovia também. Ora secava a cidade inteira com suas amarguras.
Ás vezes queria correr. Largar a sombrinha e correr na chuva. E sentir os pingos em seu rosto e misturar as lágrimas e os lamentos. Ora queria estar seca, de um ponto distante assistindo o mundo se afogar. Foi tudo que ouvi quando vi aquela mulher caminhar na chuva. Não resisti, quando passou por mim abruptamente me escalei em baixo de seu guarda-chuva. Ela num susto parou. Eu a encarei. Ela enxugou os olhos com o punho e deixou o rosto todo a mostra quando afastou os cabelos.
Questionou-me com o olhar, pra onde vai? Eu, silêncio por poucos segundos, que pareciam eternos, imaginava se ela ouvia meu coração pular do peito. Disse a ela que não me importava, só queria caminhar um pouco debaixo de chuva e pedi que ela me levasse até onde pudesse e quisesse. Ela me olhou. Eu tremi. Ela voltou ao seu autismo e seguiu. Três passos. Eu fiquei parado na chuva. Ela voltou. Colocou-me embaixo do seu abrigo e com um desviar do olhar me convidou a acompanhá-la.
Naquele minuto a chuva pareceu quente e acolhedora. Eu ao seu lado queria saber seu nome, profissão, desejos, mas sabia que só me cabia o silêncio. Não podia interrompê-la. Seguimos até ela me abandonar na frente de uma loja de departamentos. Entendi que não tinha mais permissão de acompanhá-la. E por mais que meu desejo fosse segui-la, me contentei em admirar sua imagem afastar e se misturar entre as outras pessoas.
*
Érico - alter-ego masculino

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

segredos

  • Nunca fui a um cabeleireiro;

  • Desde que li A Metamorfose de Kafka tenho receio em matar baratas;

  • Tenho medo que alguém possa ouvir meus pensamentos;







foto: Rebeca Van Ommem

quarta-feira, 30 de julho de 2008

A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda.
Mário Quintana

----Finalzinho das férias.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Há exatos dois anos foi o nosso primeiro encontro. Fomos ao cinema, eu cheguei absurdamente atrasada e quando saímos do filme ele de tão nervoso não conseguiu me chamar pra tomar nem um café e conversar sobre o filme. Ele é assim. Tímido e enrolado. Mas não demorou mais que uma semana pra que ele me pedisse em namoro. Foi um pedido estranho, eu confesso, mas não tinha como ser recusado.
Dois anos é meu recorde. Nunca consegui passar mais que seis meses com ninguém. Mas estamos numa paixonite até hoje. Engraçado que uma amiga sempre me alertou que a paixão em si dura mais ou menos isso. Que depois vem mais a amizade e que a vontade de segurar a mão, abraçar, beijar, morder, falar, cutucar, agradar, tudo isso segundo ela passaria. Ainda não passou. Ainda não passou. Somos capazes de passar o dia inteiro na companhia um do outro e quando nos separamos alguém sempre liga pra dizer que já está com saudades.
Pra mim é estranho e ao mesmo tempo delicioso.
Achei esse post no outro blog, depois do tal primeiro encontro. Resolvi republicá-lo. É isso:


Terça-feira, Julho 25, 2006

_Ele: tu és legal.
_Eu: quem é legal? eu?
_Ele: é... eu gosto de tu... só não sei se tu gosta de mim como eu gosto de tu....
_Eu: eu também sei se eu gosto de tu como tu gosta de mim porque eu não sei o quanto tu me gosta... muito subjetiva essa questão....
[silêncio]
_Ele: vou indo...
_Eu: tchau....
_Ele: te vejo amanhã.


Num retrato-falado eu fichado exposto em diagnostico.

Especialistas analisam e sentenciam:

"Deixa ser como será. Tudo posto em seu lugar".

Então tentar prever serviu pra eu me enganar.

Deixa ser. Como será. Eu já posto em "meu lugar"?

Num continente ao revés, em preto e branco, em hotéis.

Numa moldura clara e simples sou aquilo que se vê.

Retrato Pra Iaiá [Los Hermanos]

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Débora era sem dúvida um peixe fora d’água que tentava inutilmente sobreviver naquele ambiente inóspito. Ouvia mais do que falava, mas tinha o riso frouxo. Destacava-se das outras pela naturalidade, nada de escova progressiva e [quase] nada de maquiagem.
De certa maneira ela se sabia diferente, se sabia bela e se sabia desejada. Falava um pouco baixo e pausadamente, o que atiçava ainda mais a curiosidade masculina e feminina.
Parecia um tanto inalcançável para boa parte dos rapazes que a observavam naquela festa. Érico resolveu aproximar-se dela, como amigo mesmo, assim se ela oi rejeitasse não afetaria o seu “lado masculino”.
Conversaram sobre muito, tudo de faculdades, tanto de música, mais sobre filosofia e personalidades. No fim da noite a moça encarou dois ou três copos de um drink vermelho. Segurava a taça como se um soro curador e bebia como se estivesse com sede de coragem.
Quando terminou se aproximou do rapaz e o beijou. Um beijo molhado, tímido e ousado.
Eles ficaram mais um tempo, tendo o silêncio como cúmplice. No da festa, quando a manhã começava a despertar trocaram telefone.
Então ela o abraçou. Um abraço tão desesperado, tão entregue, tão cansado, esperançoso, como de uma criança que a muito não vê o pai. Talvez fosse só um abraço apertado. Mas o assustou. Tanto que ele nunca retornou suas ligações.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Encontrei velhos amigos hoje. Foi bom caminhar pelo centro da cidade como fazíamos há tempos. Caminhar sem pressa entre os que tem pressa é uma sensação mágica.
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Fiquei um tempo olhando a foto do porta-retrato que fica ao lado da cama, no criado mudo. Lembrei do momento da foto e de como estávamos alegres. Resolvi ligar para ele. Estou de férias, mas ele não. Provavelmente vou atrapalhá-lo no trabalho, mas é por uma boa causa. Preciso dizer que lembrei daquele dia.

Chama uma, duas, três vezes ele não atende. Quatro, cinco, seis, desisto. Deixo o telefone ao lado, e tento dormir um pouco. Férias = horários confusos. Mas não consigo dormir. A cama parece estar em chamas. Um calor que o ventilador não dá conta de atenuar.

Deito no chão. Faz bem pra coluna, dizem. A temperatura da cerâmica branca é mais agradável. Então durmo. E sonho. Sonho com ele, claro, sonho conosco. É bom. É bom tê-lo comigo.

Acordo com o telefone tocando. É ele. Diz que me ama. Que está com saudades. Pergunto se ele
demora, ele não responde. Quando encerro a chamada a porta se abre. Ele tira os sapatos e desabotoa os primeiros botões da camisa. Deita ao meu lado no chão, cheira meus cabelos e me faz cafuné com o olhar no teto. Ficamos assim um bom tempo. Curtindo o bom de ter um ao outro no silêncio.











nós - por mim

quinta-feira, 10 de julho de 2008


1. A ansiedade não vai me engordar mais 10kg... mas deve me matar em breve.
2. A gripe não deve me matar, mas se eu continuar corizando desse jeito devo perder o nariz.
3. Meu nariz não vai se perder por ai, mas estou animadíssima com o primeiro passo do
tô feito criança \O//

quinta-feira, 3 de julho de 2008

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Começa na cabeça. Um formigamento. Interno, sabe? Um formigamento cerebral. Ele se intensifica até se tornar uma coceira. Numa confusão de formas, cores e texturas vão parar nos dedos.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Ele me fitava profundamente. Parecia que alcançava justo o que eu corria pro último infinito em mim para esconder. "Ele acabara de descobrir minhas fraquezas", eu pensava enquanto tentava disfarçar meu semblante de susto.Não é justo que ele me descubra assim tão fácil, como se me cobrisse apenas um lençol branco, e nada mais guardasse minhas intimidades. Eu me sentia assim, nua. Como se ele tivesse puxado o lençol quando eu estava distraída.O pior em estar nu, é está nu só...

sábado, 1 de março de 2008


Eu cheia de medos

porque mesmo pessoas grandes têm medo do escuromedo de barata,

medo do mostro do armáriomedo do buraco negro que suga os objetos que caem debaixo da cama

medo do fracasso...



E até medo do sucesso.

medo do novo corte de cabelo

medo da nova moda de sapatos

medo das pessoas

medo da pessoa

medo de ser descoberto.


medo que ele se canse

medo de cansá-lo.


mas não durmo com a luz acesa,e eu mesmo mato as baratas que me cruzam (mesmo que sempre me venha a mente a metamorfose de Kafka)

e arrumo o guarda-roupas,

e varro embaixo da cama

e sigo em frente, mesmo que signifique voltar atrás.


e corto o cabelo, e uso o sapato estranho,

e converso.


e o vejo, e o beijo e o amo,

e tento fazê-lo sem receio.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

da sexta pro sábado

madrugada confusa. depois da farra a volta pra casa. ele com muito sono esperava amanhecer pra ir. deixei dormir na minha cama. quando o sol raiou fui acordá-lo.


_ Acorda, Bonitão. O sol já apareceu...


antes que eu terminasse a frase ele me interrompeu:


_ Casa comigo, Bonitona.

*

*

Case-se comigo

Antes que amanheça

Antes que não pareça tão bom pedido

Antes que eu padeça

Case comigo

Quero dizer pra sempre

Que eu te mereço

Que eu me pareço

Com o seu estilo

E existe um forte pressentimento dizendo

Que eu sem você é como você sem mim

Antes que amanheça, que seja sem fim

Antes que eu acorde, seja um pouco mais assim

Meu príncipe, meu hóspede, meu homem, meu marido

Meu príncipe, meu hóspede, meu marido

[Liminha e Vanessa da Mata]