Quando me olhei no espelho hoje tive a sensação de que estou vestida com uma capa de gordudra, como se eu estivesse escondida em mim mesma, soterrada.
Mais que na hora de levar a dieta a sério.
Essa semana, duas ou três vezes quando nos vimos ele falou do nosso primeiro encontro. De como quando ele tinha coragem de me fitar eu estava escondida entre os cabelos e de como foi significativo o primeiro beijo, "foi como se selássemos um pacto".
Confesso que não sou boba, e uma hora eu acabei desconfiando que ele estivesse me paquerando. Ora, muito apropriado. Eu tinha acabado de entrar na faculdade, estava muito animada com a demissão do emprego e com a viagem pra BH que eu tinha marcado e planejado com a indenização.
No que diz respeito às sentimentalidades tinha me proibido de reencontrar as mesmas velhas figurinhas repetidas. Queria conhecer alguém novo, que me despertasse a curiosidade e que eu pudesse conhecer vagarosamente a cada encontro.
Foi exatamente assim que aconteceu. Ele não tinha nenhum estereotipo. Não parecia ser militante político, nem praticante de jiu jitsu, nem tão doce e carinhoso como eu acabei o descobrindo. Eu o achava muito diferente de mim, agora eu sei que somos mesmo farinha do mesmo saco.
Temos a mesma fome um do outro. Guardamos a mesma porção de respeito e de sensatez. Somos medrosos e adoramos aventuras. Queremos privacidade, queremos família, queremos amigos. Conhecemos muitos sabores juntos. E mesmo que nos vejamos ou falemos sempre, sempre fica um gosto de quero mais, uma grande porção de saudade.
Até onde vai a minha culpa?
uma misturinha boa de felicidade sem tamanho e medo do fim.
da segunda vez questionei se ele já havia sentido algo semelhante. ele não soube responder. disse não saber externar o que sentia quando me via. fingi acreditar, mas o medo sem fim ficou tão grande que meu peito pareceu apertado pra tanta angústia. mas eu sorri. fingi estar tudo bem. e até ficou tudo bem. estou convencida a viver o que estiver pra mim, mesmo que esteja sozinha. só fiquei com receio por ter contado sobre as borboletas no estômago. talvez ele não devesse saber...
na segunda-feira, no msn, aviso sobre o email que enviei. um poema de leminski mais umas sentimentalidades e uma montagem com uma imagem nossa. durante muito tempo fico sem resposta.
não aguento. pergunto se leu o email e o que achou. ele responde que está relendo sei lá quantas vezes e que acha que acabou de sentir. e descreve como uma agonia no peito e uma vontade de explodir de felicidade.
e eu? eu me sinto como se tivesse 12 anos (e ele 13 rs).
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quando eu vi você/ tive uma idéia brilhante / foi como se eu olhasse /de dentro de um diamante /e meu olho ganhasse /mil faces num só instante
basta um instante/e você tem amor bastante
um bom poema leva/anos cinco jogando bola, /mais cinco estudando sânscrito, /seis carregando pedra, /nove namorando a vizinha, /sete levando porrada, /quatro andando sozinho, /três mudando de cidade, /dez trocando de assunto, /uma eternidade, eu e você, caminhando junto.
AMOR BASTANTE - Paulo Leminski